quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Redes P2P
Mesmo com a queda do Megaupload, redes P2P resistem e ficam no ar.
As autoridades norte-americanas conseguiram tirar o site de troca de arquivos Megaupload do ar, causando um efeito dominó em outros sites parecidos, que desabilitaram as funções de compartilhamento – foi o caso, por exemplo, do Filesonic. A queda do Megaupload fez com que o uso de redes ponto a ponto (P2P) aumentasse e essas redes ainda estão ar. Por que é tão difícil tirar esse tipo de rede do ar?
Uma rede P2P é a que funciona com conexões diretas entre seus participantes. Ou seja, as transferências não são feitas através de um servidor central.
Na verdade, o governo norte-americano e as gravadoras já tiveram sucesso em tirar algumas redes P2P do ar. O primeiro exemplo foi o Napster. E teve mais alguns casos relevantes: o Kazaa, o Limewire, o Grokster e o Morpheus. O que a Justiça conseguiu, nesses casos, foi tirar do ar ou interferir com um servidor central no qual esses softwares dependiam para funcionar.
Devido a esses casos, as redes P2P passaram a depender cada vez menos de um ponto central, apostando na descentralização.
Em uma rede centralizada, tudo para de funcionar quando o ponto central sai do ar. (Foto: Divulgação)
Diversos servidores
Algumas redes P2P funcionam com servidores distribuídos. É o caso, por exemplo, do eMule. Existe uma lista de servidores e qualquer pessoa pode colocar no ar um servidor. Embora as autoridades já tenham retirado do ar alguns servidores notórios da rede, outros surgem muito facilmente.
Os servidores se comunicam entre si, garantindo que todos os usuários tenham acesso a todos os arquivos.
Outra rede que utiliza o mesmo princípio é a Gnutella, usada pelo software Shareaza.
O BitTorrent também é um exemplo, embora de maneira diferente. No BitTorrent, um arquivo “.torrent” define “rastreadores”. O rastreador serve para manter informações de download sobre aquele arquivo, embora um mesmo rastreador possa aceitar vários arquivos. Um mesmo arquivo pode usar vários rastreadores. Enquanto pelo menos um estiver on-line, o download vai continuar sem problema – e até um arquivo sem rastreador pode ser baixado, com o uso do DHT.
Supernode
Outro conceito de rede ponto a ponto emprega o conceito chamado de “supernode” ou “supernó”. Um “nó” em uma rede é qualquer computador que está conectado a ela. Como explicado anteriormente, algumas redes P2P empregam diversos servidores diferentes para se manterem no ar. Uma rede baseada em “supernós” é uma rede na qual todos os computadores a ela conectados são, ao mesmo tempo, clientes e servidores.
Embora algumas redes sobrevivam puramente dessa maneira (como a rede usada pelo programa Ares Galaxy), as redes do eMule e do BitTorrent também empregam esse conceito. O eMule usa a rede Kademila (Kad), enquanto o BitTorrent usa uma tecnologia baseada no Kad que aparece simplesmente como “DHT” nas configurações do programa.
O DHT (Distributed Hash Table) é uma rede que permite que as pessoas conectadas ao BitTorrent troquem informações entre si sobre todos os arquivos que elas estão baixando. É possível descobrir outros usuários que estão baixando o mesmo arquivo, mesmo que seja de um rastreador diferente. A rede DHT não depende de servidores – basta conhecer outro usuário qualquer da rede para estar conectado.
Graças ao DHT, em teoria, enquanto um único rastreador de BitTorrent estiver no ar – mesmo que seja um rastreador de um torrent legítimo e legal, todos os torrents – inclusive aqueles ilegais – poderão continuar funcionando por meio do DHT. O único rastreador será suficiente para descobrir outros membros da rede DHT e, assim, começar a busca por outros torrents.
Em redes com supernós, conexão é feita entre os próprios participantes. (Foto: Divulgação)
É claro que o DHT é mais lento e nem sempre encontra outras pessoas que estão trocando os arquivos. Isso se dá porque os usuários precisam formar “grupos” e cada membro do grupo estará conectado em usuários diferentes, que então estarão em outros grupos e assim sucessivamente (imagine o conceito de “amigos dos amigos” de uma rede social). Com isso, as informações vão se propagando pela rede. Mas quanto mais distante alguém está do seu grupo, mais demorado será para encontrá-lo e começar o download.
Os arquivos magnet são baixados por meio do DHT. O site The Pirate Bay tem agora o magnet como padrão para referenciar os arquivos “.torrent”.
Programas P2P usados no Japão, como o Winny, muito usado a partir de 2003 e hoje já substituído por softwares mais novos, usam o conceito de “supernós” como única forma de conexão. Para otimizar a rede, os grupos são formados com base em interesses definidos por palavras-chave. Assim, usuários que procuram filmes ou músicas ficam mais próximos entre si do que daqueles que procuram softwares, por exemplo.
E como seria possível derrubar as redes?
Enquanto houver um único rastreador ou servidor on-line, as redes modernas de troca de arquivos têm condições plenas de funcionamento. No caso de redes que usam supernós, enquanto houver um único endereço na internet onde é possível obter o endereço de outro usuário da rede, não há problema em manter a rede funcionando.
A única maneira de derrubar por completo essas redes seria por meio de detecção de tráfego, ou seja, bloquear completamente o uso da rede P2P na infraestrutura dos provedores de internet. Isso seria tão difícil quanto prender todos os donos de servidores: tecnicamente, é uma tarefa “pesada” e também complexa, porque protocolos P2P podem utilizar criptografia e outros mecanismos que dificultam a identificação do tráfego.
Além disso, as redes P2P não são maliciosas por conta própria. Proibi-las completamente iria resultar em extensas discussões legais sobre o direito à liberdade de expressão.
Enquanto internautas tiverem a possibilidade de trocar informação – o que é um direito constitucional – é muito difícil impedir que apenas um determinado tipo de informação seja bloqueado pela internet.
É justamente por esse motivo que, nos Estados Unidos, as gravadoras resolveram começar a processar os próprios usuários das redes P2P. Isso porque os usuários das redes estão expostos quando baixam algo. No caso do Megaupload, não era possível saber quem baixou um arquivo. Por outro lado, o site se mostrou alvo fácil para as autoridades.
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